Extremos: Um lado alimenta o outro

(Imagem gerada por: Google Gemini)

    Vemos uma eterna discussão onde se a pessoa não pertence a um dos lados é chamada de parte do outro. Se por um lado temos aqueles que relativizam a fé e tentam o tempo todo transformar a Igreja numa ONG voltada apenas para as coisas do mundo e pouco ou nada se importam com o sagrado, do outro lado temos o exagero daqueles que insistem em se prender a observâncias que não são atualmente uma obrigação, o que não quer dizer que seja proibido, mas foge do controle quando quem deseja observá-las, começa a cobrar que os demais façam o mesmo.

    O gosto do consumidor é o problema em comum dos dois lados. Mesmo com pensamentos tão diferentes, nesse ponto, os extremos são iguais: Uns ficam naquela: ''Mais vale isso do que aquilo'' e começam a criar teses ''Jesus se preocupava mais com isso que com aquilo''. Do outro lado, vemos quem pega documentos que já caducaram, isto é, temos documentos atuais que mostram que não é mais daquele jeito, porém, seguem citando com se aquilo fosse regra para hoje.

    É o exagero de um lado que alimenta a existência do outro extremo. Muitos se sentem na necessidade regressar à Idade Média, porque há aqueles que se não forem corrigidos, transformam a Igreja num palanque político e/ou numa mera instituição filantrópica voltada para a solução única e exclusiva daquilo que é passageiro, isto é, servindo as pessoas apenas com as coisas físicas, e não com o espiritual.

    Mas a investida de um lado em detrimento do outro, ao invés de enfraquecer o oposto, pelo contrário, o fortalece cada vez mais. Se aqueles que focam tanto no material, não deixassem as regras atuais da Igreja caírem por Terra, se a liturgia fosse bem celebrada e o Sagrado tivesse toda a reverência necessária, não haveria a necessidade de grupos lutarem pela defesa da sã doutrina, que muitas vezes é totalmente relida por alguns que praticamente querem reescrever a história do plano da salvação, transformando Jesus num mero agitador político e ativista social. No outro extremo, ao invés de vermos uma luta por conservar aquilo que é hoje a sã doutrina da Igreja, vêm alguns com catecismos antigos alegando que o atual é errado, que os papas são inválidos, que tudo está errado e que só ele e seu grupo estão certos; a sã doutrina da Igreja é para eles como uma quitanda, onde colhe-se ao longo da história da Igreja aquilo que mais lhes agrada dentro de um recorte histórico.

    Enquanto muitos querem reescrever o rito da missa, outros chamam de missa de sempre o Rito Romano Antigo, como se antes e depois não fosse a Santa Missa. A missa hoje, celebrada em língua vernácula, isto é, na língua de cada lugar, é o santo sacrifício tal qual quando celebrada em latim, tanto como fora celebrada ao longo dos séculos pelos apóstolos e seus sucessores até os dias atuais. Missa de sempre não é um rito X ou Y, mas a sequência histórica vinda desde os tempos dos apóstolos, onde eles se reuniam em nome de Cristo Crucificado (1Cor 1,23) = sinal da cruz, saudavam os irmãos como nas saudações das cartas de São Paulo e outros apóstolos, pediam perdão a Deus antes da partilha do pão ou celebração da liturgia (primeiras expressões utilizadas para ser referir à Santa Missa), meditavam as escrituras, eram admoestados pelos apóstolos e seus sucessores, era já a mesma fórmula da consagração, que São Paulo afirma ter recebido e agora transmitia (1Cor 11,23-31). No final, havia a bênção de envio e todos eram enviados em missão.

    Os argumentos de cada lado, caem por Terra quando ao se dirigirem ao outro, exagerarem na abordagem, apenas trocando a ideia de um pela ideia do outro. Por um lado, uns alegando que a Igreja já promoveu muitas mudanças, o que é verdade, porém, não se pode mudar antes da Igreja aprovar, dando explicações aos fiéis de teses não aprovadas como oficiais. Por outro lado, vemos aqueles que questionam que algo que foi certo durante muitos anos não pode estar errado, logo, não pode ser suprimido. Será que eles pensam o mesmo quanto ao celibato? Durante muito tempo ele não existiu e hoje há quem prefira o martírio que ver a possibilidade de padres casados, sendo que inclusive já é uma realidade em alguns ritos católicos.

    Note que facilmente é possível argumentar contra lados extremos que não focam no que a Igreja fala, mas em suas convicções pessoais, uns se eximindo de responsabilidades e outros presos no apego de seus gostos.

    O dia em que um desses lados acabar e assim seus seguidores abraçarem apenas o que a Igreja diz, sem querer inventar ou engessar, o outro em seguida deixa de existir: Sem os relaxados, o que os exagerados vão ter para criticar se ninguém mais estiver relativizando nada daquilo que a Igreja atualmente ensina? Sem os exagerados, qual exagero será usado como argumento pelos relaxados para acusar alguém de querer demais?

    Isso não significa que devemos ser pessoas em cima do muro. Em cima do muro é alguém que não sabe o que quer, se quer a Igreja ou o mundo, se aceita a verdade de fé e cumpre o que a Igreja ensina ou não, isto é, se é ou não obediente à Igreja de Cristo, se confia ou não nas promessas de Nosso Senhor.

    Tanto quem relativiza, não ama, pois não respeita, quanto quem exagera, a ponto de falar que a Igreja se perdeu, que o papa não é legítimo, que não tem Igreja mais, se perde em si mesmo e em suas convicções como os relativistas, que ao invés de acreditarem nas promessas de Cristo, acreditam os primeiros nas suas próprias testes e os segundos, em seus medos provindos do temor, não de Deus, mas de não terem seus gostos históricos atendidos. Ambos perderam de vista o ponto de partida, que é fazer a vontade de Cristo, pois se fizessem a sua vontade, não questionariam a atualidade, mas viveriam como os santos que eles citam viveram: São Jerônimo questionou os livros deuterocanônicos, mas os colocou na tradução da Bíblia em obediência ao papa São Dâmaso I e não ficou defendendo teses pessoas que acreditava que deveriam ser aprovadas, tampouco disse que a Igreja estava se perdendo e que o papa era inválido.

    Imagino os internautas extremistas de hoje de ambos os lados, sejam sacerdotes ou leigos, se vivessem no tempo dos Concílios e se tivessem conversado com os santos que questionaram mas obedeceram. Os santos seriam chamados de apoiadores de Teólogos da Libertação e os papas proclamadores de Dogmas e preceitos, como da abstinência de carne nas sextas-feiras, de Tradicionalistas.

    Não sejamos ingênuos de negar o que de fato é a teologia da libertação e o tradicionalismo, devemos sim ser críticos quanto aos exageros de ambos os lados, nenhum deles tem o direito de reescrever o que Igreja diz, ou se ater a um recorte histórico do que a Igreja já disse, porém, hoje em dia, obedecer à Igreja na integralidade, isto é, no que ela fala atualmente, com todas as regras que não caíram por terra, e reconhecendo as exceções possíveis que devem ser usadas apenas em caso de necessidade, é ser chamado de TL ou de Tradicionalista. Defender preceito virou sinônimo de tradicionalismo, e falar de exceções, que sim, são exceções, mas que existem, é ser TL.

    Não devemos ser nem um, nem outro, mas sim, católicos apostólicos romanos, guardando os preceitos e mandamentos, em obediência ao papa atual, valorizando o atual catecismo, sendo ele nossa base doutrinal e não os anteriores, e reconhecendo as exceções até onde podem ir e quando se aplicam. Não é nem passando a mão na cabeça do errado, nem falando que quem não mudou depois que ''EU'' falei, vai pro Inferno; que iremos resolver o problema. Ninguém conseguirá viver já o início do Céu aqui na Terra, se não abandonar o pecado, logo, temos que acolher, mas para evangelizar e não para aplaudir o erro; tal qual, ninguém vai automaticamente para o Inferno, só porque o tempo de entendimento para o início da vivência dos preceitos e mandamentos, é mais lento que o seu. Não é criando pastoral de quem comete tal pecado que vai resolver, tampouco dizendo que se já avisou a alguém que está errado, se não mudar hoje após você ter anunciado a verdade da Igreja a essa pessoa, que ela vai pro Inferno. É evangelizar, ensinar o certo sempre, não aplaudir nem abafar o erro, mas entender que o processo de cada um leva um tempo diferente; pois se não, se dissermos que está tudo bem como está, acolher por acolher, sem vistas de mudança, é levar o irmão para a perdição, isso não é amor, é falsa bondade; mas também, sair dizendo que porque você já falou, tem que mudar na hora, aí não é acreditar que a pessoa ouviu o que a Igreja diz, é acreditar que por que ''VOCÊ'' falou o que a Igreja diz, que tem poder pra fazer a pessoa mudar na hora. Fale o que a Igreja diz, não tape o sol com a peneira, não relativize; mas também, não pense que é porque ''VOCÊ'' quem anunciou, que o outro irá mudar que não é assim, a pessoa mudará quando entender a verdade, independente de quem fez o anúncio.

    Nem lá, nem cá, mas no lugar. Nem extremo X, nem extremo Y, mas naquilo que a Igreja falar.



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