Amigos de Tempo Comum



Qual é o verdadeiro amigo?


Será que é aquele que só aparece na alegria ou aquele que só aparece na tristeza?


Não! É aquele do dia a dia!


    Costumo dizer, que temos amigos de Advento e Quaresma, assim como temos amigos de Natal e de Páscoa. Para quem não entendeu a associação, o Advento e a Quaresma são tempos penitenciais, onde nos preparamos para os tempos festivos do Natal e da Páscoa respectivamente. A páscoa é a maior solenidade da Igreja, enquanto que o Natal é a segunda, portanto, a Quaresma é o tempo de preparação mais penitencial que percorremos, enquanto que o Advento é o segundo.

    Vivemos dois tempos de preparação, de penitência, para gozar as alegrias dos tempos solenes, porém, o ano litúrgico não se resume nesses dois grandes momentos Advento-Natal e Quaresma-Páscoa, mas no pão nosso de cada dia que é o Tempo Comum, aquele que percorremos na maior parte do ano, tal qual em nossas vidas, não vivemos uma eterna penitência, uma eterna provação, como também não temos só alegrias, nem tudo são flores sempre; mas é no dia a dia, na caminhada diária por aquilo que é comum, por aquilo que é o ordinário e não o extraordinário de nossas vidas, que conhecemos quem está sempre conosco.

    No dia a dia temos momentos de alegria e de tristeza que se intercalam, temos momentos também, onde não estamos nem felizes nem tristes especificamente por algo, mas apenas estamos levando nossa vida normalmente, sem grandes motivos para comemorar ou chorar. No Tempo Comum, temos também a caminhada dominical e semanal pelos domingos e semanas do referido tempo litúrgico, mas o tempo todo recheado de memórias, festas e solenidades que nos recordam os tempos penitenciais e festivos.

    A Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos (Finados) no dia 2 de novembro, nos coloca em sintonia com a Féria do Advento e o Tempo da Quaresma, onde as memórias são chamadas de comemorações, pois são momentos ainda mais penitenciais, de reflexão sobre nosso encontro com o Senhor, por isso, a preparação dos corações.

    A Festa da Apresentação do Senhor no dia 2 de fevereiro, nos remete ao Tempo do Natal, que nos lembra sempre que aquele que nasceu, cresce, como as crianças que nos alegramos no dia de seu nascimento e renovamos a alegria a cada etapa que se completa em sua vida.

    A Solenidade de Todos os Santos celebrada no dia 1º de novembro ou no domingo seguinte, nos recorda todos aqueles que já tiveram suas páscoas e já alcançaram o Céu, que foi para nós aberto por Cristo quando Ele ressuscitou.

    A Festa da Exaltação da Santa Cruz em 14 de setembro, nos permite recordar que como o domingo é nossa páscoa semanal, que também a sexta-feira é nossa paixão semanal, se no domingo é dia de festa, na sexta é dia de penitência. O recorda a Sexta-feira Santa, nos lembra todas as sextas ao longo do ano.


E o que tudo isso tem a ver com a amizade?


    Há amigos que só aparecem nos momentos de comemoração, só estão conosco quando tudo vai bem, mas na primeira dificuldade, nos deixam a ver navios. São os interesseiros, que só querem extrair o que podem de nós, mas se não temos utilidade, nos descartam. Esses são os amigos de Natal e de Páscoa, só estão reunidos nas festas, mas no primeiro Advento e na primeira Quaresma que passamos, já pulam fora do barco.

    Há também, os amigos de Advento e Quaresma, que até nos ajudam nos momentos difíceis, estão sempre nos velórios e visitando-nos no hospital, mas a coisa mais difícil é reuni-los no aniversário, numa comemoração, nos deixando sempre como última prioridade nos nossos natais e em nossas páscoas, isto é, em nossas solenidades. O tempo está corrido, trabalho, faço isso e faço aquilo, mas quando querem, tiram tempo para fazer o que desejam e todas as desculpas que geralmente dão, não são impedimento para celebrarem com quem realmente querem. Nesse dia não tem expediente de trabalho, não tem compromisso aqui nem ali, há um jeitinho para fazerem aquilo que querem. Não necessariamente quer dizer que essas pessoas são ruins, mas não são amigos, talvez sejam pessoas caridosas, o que é inerente ao ser humano, pois se alguém necessita de ajuda diante de você, mesmo não sendo seu conhecido, você ajuda. Quando uma senhora tropeça e cai na rua, não é necessário ser amigo dela para ajudá-la a se levantar, basta ser humano.


Então quem é o verdadeiro amigo?


    O amigo de Tempo Comum, aquele que está conosco nas alegrias e nas tristezas, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, mesmo que a amizade não seja um matrimônio, pois no caso do referido sacramento, o compromisso é ainda maior.

    Porém, o amigo de Tempo Comum, não está presente apenas nesses momentos extremos, mas no dia a dia de sua vida, como você faz parte da vida dele: Não só nas provações e comemorações, mas no dia a dia, em todas as comuns situações, no ordinário diário.

    Ele não só te estende a mão na provação, tampouco só dá lembrança no tempo da bonança. É aquele que percorre com você, desde o amanhecer até o entardecer. Do nascente ao poente, está sempre com a gente. E mesmo à noite, não só se programa para a festa com aquele pique de carnaval, como também não só tem disposição para te atender à noite para lhe dar os pêsames por um funeral.

    Amigo de Tempo Comum é aquele que te vê como prioridade, que não é todo dia que se atrasa para lhe responder uma mensagem, que não está com sono só para conversar, mas a disposição vem se você o chamar para comemorar, ou de madruga alguém velar.

    Amigo de Tempo Comum, por vezes sim, está ocupado, mas não é aquele que sempre lhe deixa de lado, ele às vezes tem sono antes das 9, mas nem que seja de vez em quando, lembra de você e depois que dorme.

    Amigo de Tempo Comum passa contigo os dias de Finados e da Exaltação da Santa Cruz, assim como está presente em Todos os Santos e na Apresentação de Jesus; mas sobretudo está contigo no caminhar diário, que assim como o Tempo Comum é chamado em outros idiomas, é aquele que está com a gente no Tempo Ordinário.

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